12/04/2021

Redação | Engajamento de estudantes | ENEM

Desenvolver a competência 3 com a turma – Como e por onde começar!

Maneiras não tradicionais de garantir a experiência de aprendizagem da turma

Desenvolver a competência 3 com a turma pode ser um desafio e este é um texto que serve como resposta àquela fatídica afirmação que todos os professores de Produção de Texto já ouviram: “Mas, prô, eu nunca sei como começar o meu texto do Enem!”. Pois bem, a resposta está no planejamento!  Diferente da Competência 2, a Competência 3 (C3) do Enem não diz respeito à avaliação temática ou ao repertório sociocultural. Antes de tudo, A C3 avalia dois pontos essenciais: o projeto de texto e o desenvolvimento de informações. Falaremos sobre os dois, ok?

Como começar a desenvolver a competência 3 com a turma

Em primeiro lugar, o projeto de texto diz respeito à organização prévia do texto. Diferente de outras competências, a C3 procura aspectos que ficam implícitos na produção, mas que são facilmente identificados em textos de sucesso. Ou seja, identificamos um projeto de texto fidedigno quando as três partes essenciais do texto — introdução, desenvolvimento e conclusão — estão conectadas umas às outras.

Em segundo plano, no momento da escrita, o aluno se depara com a necessidade de aprofundar as informações que traz. Dessa maneira, entendemos que o principal aspecto do que chamamos de desenvolvimento é a identificação da explicação do autor sobre a relação entre os argumentos e seu ponto de vista. Isto é, o objetivo deve ser ir além da exposição de um argumento, justificando, ainda, o porquê de ele fazer sentido.

Por conta disso, separamos algumas estratégias para desmistificar uma figura presente na escola desde os primórdios, mas que, com intencionalidade e com incentivo à liberdade criativa, pode (e deve, na verdade!) ser um grande aliado do aluno na hora do planejamento: o rascunho!

  1. Instigue o olhar atento do aluno aos textos de apoio: seja na folha de papel ou na Letrus, uma boa maneira de delimitar as ideias sobre o tema proposto é sublinhar, selecionar ou, simplesmente, anotar as partes mais importantes dos textos motivadores. Tudo deve ser anotado, sem censura, para que não se perca. Feito isso, sugerimos algumas perguntas norteadoras para este momento:
  • O que eu entendi do tema?
  • Eu tenho referências externas que podem auxiliar na minha argumentação?
  • Como minhas referências se interligam entre si?
  1. Apresente opções e dê poder de escolha à turma: são incontáveis as formas de chegar em um rascunho, mas a melhor delas é aquela que o autor compreende. Algumas possibilidades:
  • Lista de palavras/Checklist O objetivo é listar as ideias conforme elas aparecem e dar  “check” naquelas que forem utilizadas ao decorrer da escrita. A ferramenta Google Keep é ótima para isso!
  • Mapa mental/Fluxograma Neste caso, o objetivo seria deixar as ideias mais visuais, podendo utilizar recursos como post-its, formas, setas e mais! O Google Jamboard tem vários desses recursos e funciona de forma simples e intuitiva.
  1. Ensine-os a priorizar e hierarquizar: depois dessa chuva de ideias, pode ser que o aluno se depare com vários argumentos e, ainda assim, não saiba por onde começar. Por conta disso, é importante que fique claro que 3 argumentos está de bom tamanho! Os critérios para essa priorização podem ser:
  • Qual desses argumentos pode me auxiliar na contextualização do tema?
  • Quais eu poderia trazer ao longo do texto para comprovar minha tese?
  • Qual deles se encaixa melhor no primeiro parágrafo de desenvolvimento?
  • Qual deles se encaixa melhor no segundo parágrafo de desenvolvimento?
  • Algum deles se opõe à minha tese? Se sim, é melhor retirar!
  1. Hora de escrever (e reescrever!): para este momento, os alunos precisam saber que tudo aquilo que vai para o texto deve ser intencional. É neste momento em que o desenvolvimento vem à tona: nada deve ser implícito, nada deve ser metáfora, o texto deve ser objetivo e muito claro quanto ao que o autor pensa. A partir disso, instigue a turma a se colocar no lugar do leitor ou provoque-os, os colocando para defender sua tese oralmente:
  • Para colocá-los no lugar do leitor, que tal realizar uma troca entre os textos construídos em sala, antes do momento da reescrita? A troca pode ser tanto uma atividade individual, em que cada aluno deve ter o texto de um colega e apontar quais foram as dúvidas sobre o texto ou o que melhorariam; assim como pode ser uma atividade coletiva, com o professor ou professora à frente, textos-exemplo sendo exibidos e a turma contribuindo.
  • Para provocá-los, que tal um debate? Há tempos, sabemos que o texto vai além de palavras escritas, não é mesmo? Por isso, um debate regrado é o que mais se aproxima do texto dissertativo-argumentativo e, ainda, traz muita emoção e aprendizado para a turma. Construa uma jornada do herói (Campbell, 1949): adote um tema excitante para ser debatido, desde legalização do aborto até uma simulação da ONU para resolver problemas internacionais; escolha as personagens importantes para esse debate, caminhando por todos os posicionamentos políticos possíveis e coloque-os para estudar suas defesas por algumas aulas. No dia do debate, peça a eles que atuem e entrem nos personagens, por meio de vestimentas típicas e trejeitos. Vale a pena!

O vestibular é uma fase tensa para nossos alunos, nós sabemos bem! Justamente por isso, temos oportunidades incríveis e incontáveis para criarmos experiências, e “a experiência, a possibilidade de que algo nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar […] Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação” (Bondía, 2002). É com esse cuidado, com essa sensibilidade, que devemos falar sobre o texto neste momento, pois, assim, além de aprender a iniciar um texto, nossos alunos passarão de pessoas que escrevem a  escritores que veem sentido no que fazem.

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Referências:

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Rev Bras Educ, 2002, nº 19.

CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. 1949.